Ao todo foram estimadas as ocorrências para 21 tipos de câncer mais incidentes no País, dois a mais do que na publicação anterior, com a inclusão dos de pâncreas e de fígado.
“Decidimos incluir esses cânceres por serem um problema de saúde pública em regiões brasileiras e também com base nas estimativas mundiais. O câncer de fígado aparece entre os 10 mais incidentes na região Norte, estando relacionado a infecções hepáticas e doenças hepáticas crônicas. O câncer de pâncreas está entre os 10 mais incidentes na região Sul, sendo seus principais fatores de risco a obesidade e o tabagismo”, explica a pesquisadora da Coordenação de Prevenção e Vigilância do INCA (Conprev) Marianna Cancela.
O tumor maligno mais incidente no Brasil é o de pele não melanoma (31,3% do total de casos), seguido pelos de mama feminina (10,5%), próstata (10,2%), cólon e reto (6,5%), pulmão (4,6%) e estômago (3,1%).
Em homens, o câncer de próstata é predominante em todas as regiões, totalizando 72 mil casos novos estimados a cada ano do próximo triênio, atrás apenas do câncer de pele não melanoma. Nas regiões de maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), os tumores malignos de cólon e reto ocupam a segunda ou a terceira posição, sendo que, nas de menor IDH, o câncer de estômago é o segundo ou o terceiro mais frequente entre a população masculina.
Já nas mulheres, o câncer de mama é o mais incidente (depois do de pele não melanoma), com 74 mil casos novos previstos por ano até 2025. Nas regiões mais desenvolvidas, em seguida vem o câncer colorretal, mas, nas de menor IDH, o câncer do colo do útero ocupa esta posição.
Incidência por região (excluído o câncer de pele não melanoma)
Do total dos 704 mil novos casos de câncer a cada ano no País durante o triênio 2023-2025, 70% dos casos estão previstos para as regiões Sul e Sudeste. O câncer de mama em mulheres (Sul: 71,44/100 mil; Sudeste: 84,46/100 mil), o de próstata (Sul: 57,23/ 100 mil; Sudeste: 77,89/ 100 mil) e o de cólon e reto (Sul: 26,46/100 mil; Sudeste: 28,75/100 mil) são os três tipos mais incidentes nessas duas regiões.
“A mudança de comportamentos associados à urbanização como sedentarismo, sobrepeso e obesidade, consumo de álcool e tabaco, ingestão de carne processada, além de dieta pobre em frutas, legumes e verduras aumenta o risco de câncer colorretal”, reforça a nutricionista Maria Eduarda de Melo,também da Conprev. “Em compensação, é alto o potencial para a prevenção primária desse tipo de câncer por meio de estratégias voltadas à promoção da alimentação saudável, da manutenção do peso corporal adequado, da prática regular de atividade física e da redução de bebidas alcoólicas”.
Já nas regiões Norte e Nordeste, o câncer de próstata (Norte: 28,40/100 mil; Nordeste: 73,28/100 mil) é o mais incidente, seguido do câncer de mama feminina (Norte: 24,99/100 mil; Nordeste: 52,20/100 mil) e câncer do colo do útero (Norte: 20,48/100 mil; Nordeste: 17,59/100 mil).
“O câncer do colo do útero é um importante problema de saúde pública, especialmente nas regiões Norte e Nordeste nas quais o acesso aos serviços de saúde é mais complexo. Entretanto, a doença é passível de erradicação por meio de vacinação contra o HPV [Papiloma Vírus Humano], rastreamento com exame preventivo ginecológico de rotina e tratamento das lesões precursoras”, informa o médico epidemiologista Arn Migowski, da Divisão de Detecção Precoce do INCA.
Na região Centro-oeste, o câncer de próstata, com risco estimado de 61,60/ 100 mil, representa o tipo da doença que mais incide sobre a população, seguido do de mama feminina (57,28/ 100 mil) e do câncer colorretal (17,08/100 mil).
“As desigualdades sociodemográficas, culturais e também relativas à organização dos serviços de saúde nas regiões geográficas brasileiras refletem as diferenças no ranking dos tipos de câncer. Isso permite repensar as prioridades dos programas de controle de câncer e estabelecer ações adicionais direcionadas à realidade de cada local”, esclarece a coordenadora de Prevenção e Vigilância do INCA, Liz Maria de Almeida.
Metodologia
O cálculo das estimativas de câncer utiliza as bases de dados de incidência (casos novos) , provenientes dos Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP) e dos óbitos, oriundas do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). A partir da relação entre incidência e mortalidade (I/M), modelos estatísticos são utilizados para definir a melhor predição. Essa escolha depende da disponibilidade das informações, conferindo maior ou menor precisão.
“Utilizamos metodologia análoga à empregada na elaboração das estimativas mundiais”, explica a pesquisadora Marceli Santos. “Ampliar a disponibilidade das informações sobre incidência é fundamental”.
A metodologia e as bases de dados utilizadas a cada edição da Estimativa são diferentes em função da melhoria da quantidade e da qualidade das informações de incidência e mortalidade ao longo do tempo. Por essa razão, a comparação com estimativas passadas não é possível.
“A estimativa é a principal ferramenta de planejamento e gestão da saúde pública na área oncológica, fornecendo as informações necessárias para a elaboração das políticas públicas de saúde”, frisa Ana Cristina Pinho, diretora-geral do INCA.
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